sábado, 2 de maio de 2020

Olhando o Céu - 1

O Universo - parte 1




O Universo estende-se muito para além do que conseguimos ver nas cada vez menos noites estreladas, hoje tão contaminadas pela cada vez maior poluição luminosa .

As nossas cidades cintilam hoje mais do que as Estrelas e só em alguns poucos sítios ainda conseguimos ver o céu nocturno como antes era comum fazer.

Contudo, hoje recorrendo a telescópios conseguimos ver mais coisas e mais longe do que alguma vez poderíamos sequer imaginar.

ESO - European Southern Observatory deixa-nos observar o que os nossos olhos sozinhos não conseguiriam.



2 comentários:

  1. Imagens do espaço deixam-me sempre maravilhado… é-me impossível não pensar sempre que seria um grande desperdício se estivermos sozinhos no Universo.

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  2. Poluição luminosa retratada também por escritores brilhantes, dos quais destaco um que não resisto a transcrever:
    Ode Triunfal
    À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
    Tenho febre e escrevo.
    Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
    Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

    Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
    Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
    Em fúria fora e dentro de mim,
    Por todos os meus nervos dissecados fora,
    Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
    Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
    De vos ouvir demasiadamente de perto,
    E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
    De expressão de todas as minhas sensações,
    Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

    Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
    Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
    E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
    De todas as partes do mundo,
    De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
    Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
    Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
    Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!

    Eh-lá grandes desastres de comboios!
    Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
    Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
    Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
    Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
    Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
    A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
    E outro Sol no novo Horizonte!

    Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
    Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
    Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
    Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
    O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
    O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
    O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
    Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.

    Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
    Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
    Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
    Engenhos brocas, máquinas rotativas!

    Eia! eia! eia!
    Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!
    Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
    Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
    Eia todo o passado dentro do presente!
    Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
    Eia! eia! eia!
    Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
    Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
    Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
    Engatam-me em todos os comboios.
    Içam-me em todos os cais.
    Giro dentro das hélices de todos os navios.
    Eia! eia-hô! eia!
    Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!

    Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
    Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!

    Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!

    Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
    Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!

    Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

    Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!

    Álvaro de Campos, in "Poemas"
    Heterónimo de Fernando Pessoa

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